Estádio de beisebol ficou lotado em reunião religiosa
por Jarbas Aragão
40 mil judeus ultra-ortodoxos reúnem-se para debater os riscos da Internet
Milhares de judeus ultra-ortodoxos estiveram
reunidos no estádio Citi Field, casa do New York Mets, para debater os
perigos da Internet. As mulheres assistiram o evento em telões colocados
no vizinho Arthur Ashe Stadium, que tem 20.000 lugares. A visão era curiosa: aproximadamente quarenta mil homens vestidos com ternos pretos, camisas brancas e os característicos chapéus pretos ou kipás dentro de um estádio de beisebol onde não havia jogo algum. Os principais temas debatidos são as denuncias de abuso infantil em sua comunidade e os perigos da Internet, principalmente para os jovens.
Alguns manifestantes empunhavam cartazes com frase de apoio às crianças ultra ortodoxas que foram molestadas na comunidade. Para os participantes, muitos dos quais vieram para ouvir as instruções de seus rabinos, era a chance de ouvir sobre um assunto considerado muito importante. Trata-se dos problemas potenciais que podem resultar do livre acesso à pornografia e conteúdos explícitos na web.
No centro do estádio, uma espécie de palco foi montado, onde os rabinos conduziram as orações e fizeram discursos inflamados, pedindo que se evitasse toda a “sujeira” que pode ser encontrada na Internet. Muitos sermões foram feitos em hebraico e as traduções em inglês apareciam nos telões do estádio onde as imagens eram projetas.
Mesmo assim, muitos participantes são forçados a admitir que a Internet hoje tem um papel muito importante em suas vidas. Shlomo Cohen, 24, de Toronto, Canadá, diz que usa a Internet para negócios, compras e para manter contato com os amigos. “Todo mundo precisa de e-mail”, resume ele. Cohen disse que veio para o Citi Field, porque o encontro era uma boa maneira de fortalecer a sua comunidade e controlar a tentação. “Os estímulos e desejos estão aí o tempo todo”, disse Cohen, acrescentando que os homens são mais suscetíveis. “Temos que aprender a nos controlar”, finaliza.
Rafael Hess, 29 anos, de Nova Jersey, apontou para o seu telefone de última geração e disse que encontra a paz simplesmente desligando sua conexão com a Internet. “A vida é mais agradável, sem ela muitas vezes” afirmou, dando de ombros.
A imagem curiosa de ultra ortodoxos empunhando smartphones de ultima geração e tirando fotos ou mandando e-mails dava o tom do contraste gritante entre a complexa convivência entre a tradição milenar e a vida contemporânea.
Vários manifestantes estavam do lado de fora do estádio e mesmo dizendo que compartilhavam das crenças religiosas dos participantes, queriam mostrar apoio às vítimas do abuso sexual infantil denunciados. O problema, segundo eles, é que membros das comunidades ultra-ortodoxas foram desencorajados por seus familiares a chamar a polícia e denunciar o ocorrido.
Outro fato curioso é que um dos grandes patrocinadores do evento foi o grupo rabínico Ichud Hakehillos Letohar Hamachane, que é ligado a uma empresa de software que vende aplicativos para celular e software para computadores dedicados à “filtrar a Internet” para os judeus. Além de proibir a exibição de algumas imagens e de textos contendo uma lista de palavras proibidas, também ajuda os usuários a localizar sinagogas e restaurantes kosher (aprovados pelos rabinos).
Eytan Kobre, um porta-voz do evento, fez um discurso curioso aos repórteres que cobriam o evento. “O canto da sereia da Internet seduz a todos nós! Ela traz à tona o pior de nós!”, mas ele confirmou que o evento estava sendo transmitido ao vivo pela Internet, para que mais judeus pudessem acompanhar de casa.
Traduzido e adaptado de New York Times